
Brincadeira de roda
Eu, meus companheirinhos e meus irmãos, Neto (Marcos), Nonato, José Carlos e Berenice, fomos educados em uma ambiência cultural muito saudável, tanto nas casas de nossos pais e avós, como também em toda a redondeza. Havia de tudo: vaquejada, bumba-meu-boi, quadrilha de caboclo, coco, novenas, festejos de santos católicos, terecô(umbanda), e aquilo que eram para nós crianças as coisas mais interessantes, as brincadeiras de roda. Ali era o lugar que eu mais gostava de estar, pois os versos de domínio popular que povoavam as nossas cabeças de caboclinhos e caboclinhas ecoavam nas noites enluaradas embaladas pelo vento nas palhas dos coqueiros(babaçu). Nossas línguas e mentes encantadas por essa efervecência cultural eclética também se aventuravam na repetição dos versos e na criação ou recriação de outras quadrinhas, como estes versos de domínio público: "...plantei cebola branca no caneco de beber, namorei moça bonita sem papai, mamãe saber...".
Foi a partir de minhas lembranças das histórias dos mais velhos do lugar onde eu nasci, que passei a escrever outros versos e letras que viraram canções (baião, xote, xaxado...), que me transportam para lá nas asas do vento e nas vozes e melodias que ainda escuto quando fico em silêncio. Mata do Jatobá e Cancão-de-fogo, são testemunhos desses áureos tempos, pois contam em cada verso e em cada linha, as histórias que eu ouvia quando criança que permearam o meu imaginário e que nos dias de hoje, me torna um homem mais jovem , mais feliz e mais preparado para enfrentar um mundo novo, porém mais difícil de se viver.
Mata do Jatobá ( Boca da Noite ) - Carloman
Eu vim de longe / Eu vim de láE o gato maracajá
Na terra do morro encantado/ Tem uma pedra que não tem fim
Na beira do lago, na beira do lago tem visagem sim
Tem um fogo que acende e se apaga/ Fogo que acende e se apaga
Quando chega a noite, na boca da noite
Só fica lá quem não tem medo
Só mesmo o pescador Martim.
E vem chegando gente da mesma gleba
Com cofo, vara e anzol
Raimundo Grosso, Serafim, Pedro Gera
Será fim, Pedro Gera?
Valdemar Couro, Paulo Romano, Antonio Sapateiro
Antonio, o sapateiro.
Depois da venda dos cocos tem futebol
E antes do banho um trago mel
E quando a noite cai, na boca da noite
As mulheres tiram versos em terços e novenas
Para os santos do lugar. Viva os santos do lugar!
E os homens acenam com o chapéu.
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CANCÃO-DE-FOGO ( Carloman )
Tem coisas que não fogem do meu pensamento
Tem coisa que não dá pé.
Lá onde eu nasci
Foi onde me ajoelhei
Nos terços, nas novenas
De muitas rezadeiras
O credo rezei.
Lá onde eu nasci
Foi onde me apaixonei
Nas rodas de violas
De muitos violeiros
Na cantoria cantei.
Lá onde eu nasci
Foi onde me encantei
Na roda da ciranda
Ciranda, ciranda, cirandei
Na roda da ciranda, dancei
Lá onde eu nasci
Fui criança de muitas brincadeiras
Cair no poço, cabra-cega, pega-pega, esconde-esconde
Cancão-de-fogo
Cancão-de-fogo, cancão-de-fogo.
Pois é, meu caro amigo, sorte daqueles que no mundo "desarvorado" como o nosso globalizado, tem e cultiva suas raízes, estes sim, são árvores que teimam em ficar em pé, não obstante o machado! Continue sendo árvore! Seus poemas e canções são os frutos legitimos desta grande árvore cultural!
ResponderExcluirDo amigo, Gilvaldo Quinzeiro